A Síndrome do Ovário Policístico (SOP) é uma disfunção endócrino-metabólica que consiste em três características: hiperandrogenismo clínico ou bioquímico (liberação excessiva de androgênio), ciclos menstruais irregulares (ciclos longos ou menos de 9 ciclos ao ano) e morfologia do ovário policístico (folículos nos ovários). A principal consequência é a infertilidade, havendo uma desregulação hormonal, disfunção neuroendócrina e transtorno metabólico. A prevalência de SOP em mulheres em idade reprodutiva (15 a 49 anos) é de 6 a 10%; estima-se que 15 a 20% delas tem sintomas de infertilidade. A etiologia da SOP não é muito bem conhecida, podendo ser a interação entre fatores genéticos e ambientais, como baixo peso ao nascer, obesidade e estilo de vida.
Esse transtorno consiste em uma resistência à insulina e hiperinsulinemia e uma diminuição da captação de glicose. Por isso, quem tem essa síndrome tem mais risco de desenvolver Obesidade, Diabetes Tipo II e baixos níveis de colesterol HDL, fator protetor contra doenças cardiovasculares. Os dados mostram que mais de 50% dessas mulheres estão acima do peso recomendado, comumente apresentando gordura abdominal. Uma perda de peso modesta já traz resultados positivos nos sintomas exames laboratoriais.
Essas mulheres podem apresentar dificuldade de perder peso e engravidar. Não existem medicamentos específicos aprovados: os recursos terapêuticos objetivam minimizar os sintomas. A metformina é bastante utilizada para diminuir a glicose e resistência à insulina, porém, seu uso a longo prazo não é indicado e, por isso, mudanças no estilo de vida ainda são o principal tratamento. Fazer exercício físico, diminuir peso e circunferência abdominal e adequação dos hábitos alimentares são recomendados. O tratamento nutricional para estes casos consiste em controlar e diminuir a resistência à insulina, para prevenir os efeitos em cascata. Uma alimentação balanceada, rica em antioxidantes e que promova uma microbiota mais balanceada traz benefícios para as mulheres com SOP.
Para isso, a dieta deve incluir bastantes vegetais, fibras e alimentos de baixo índice glicêmico. Portanto, será necessário um controle da quantidade e do tipo de alimento fonte de carboidrato que será consumido. Além da observação dos carboidratos, a composição da refeição vai ser fundamental para controlar a carga glicêmica e, assim, diminuir a liberação de insulina. Primordialmente, deve-se evitar os grãos refinados, os alimentos industrializados fontes de gorduras trans, o consumo de qualquer tipo de açúcar, bem como todos os doces e bebidas adoçadas. O consumo de álcool é contraindicado e as gorduras saturadas devem ser reduzidas. O consumo de leguminosas é uma boa estratégia, pois são ricas em fibras, possuem proteínas de qualidade e baixo índice glicêmico.
O que os estudos dizem sobre alimentação na SOP?
A alimentação tanto é fator protetor das doenças associadas à síndrome como pode melhorar os sintomas e consequências desta condição. Os estudos mostram diminuição do peso, da gordura abdominal, melhora do índice insulinêmico, dos níveis de colesterol e função ovulatória. A dieta baixa em carboidratos (não necessariamente a chamada “low carb”) diminui glicose em jejum, insulina e hiperandrogenismo.
O consumo de azeite de oliva e óleo de canola em detrimento do óleo de girassol melhoraram a resistência à insulina. O consumo de soja mostrou diminuição no peso e IMC corporal e diminuições significativas na insulina sérica. A ingestão de amêndoas reduziu o índice de androgênio livre. O consumo de prebióticos pode reduzir os níveis de colesterol total, triglicerídeos, LDL-colesterol, glicose, DHEA-S e testosterona livre e aumentar o HDL-colesterol, além de melhorar a regulação dos ciclos menstruai, melhorando, portanto, o perfil lipídico, a insulinemia e o hiperandrogenismo.
Alguns suplementos também mostram benefícios: o ômega-3 (óleo de peixe ou de linhaça) melhora níveis de glicose e sensibilidade à insulina; a coenzima Q10 junto com a vitamina E diminuiu glicose e níveis de andrógenos livres; a vitamina D mostrou melhora da regularidade da menstruação ou normalização da mesma. Outros suplementos podem ser usados em sintomas decorrentes da síndrome, como a dificuldade de dormir ou sono excessivo durante o dia, a desregulação intestinal, a ansiedade e a depressão.
Lembre-se: O acompanhamento frequente com ginecologista é essencial.
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Referências:
Bascuñana, J. J. A.; Sánchez, N. O. Intervenciones dietéticas em la tratamento del síndrome del ovário poliquístico. Una revisión bibliográfica. Clínica e Investigación en Ginecología y Obstetricia, v. 55, n. 1, jan-mar 2024.
Rodrigues, R. Efeito dos fatores nutricionais nas alterações metabólicas decorrentes da síndrome do ovário policístico: uma revisão de literatura. 2020. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Nutrição). Escola de Ciências Sociais e da Saúde, Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2020. Disponível em: https://repositorio.pucgoias.edu.br/jspui/bitstream/123456789/717/1/TCC%20-%20Rayane%20Rodrigues%20%28corrigido%29.pdf
Assunção, C. M. V. & Carvalho, L. M. F. Condutas nutricionais no cuidado das manifestações da síndrome dos ovários policísticos. Research, Society and Development, v. 10, n. 17, 2021. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/24260/21316